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Nossos

A cama deles ali, e ele deitado como quem não quer nada, como quem nada pensa, sereno, meio de lado, peito aberto pra lua e sonhos encaminhados pra alguma outra pessoa bem mais leve do que ela conseguia ser. Ele ali, deitado na cama deles, abraçado com seus travesseiros, olhos entre abertos e poucas preocupações.
Do outro lado estava ela. Rosto virado pra parede, ombros tensos, olhos marejados por não saber mais se tudo aquilo que ela tem mania de chamar pelo possessivo de dois, realmente ainda lhe pertencia. Ficava pensando se era assim mesmo, depois de muitos anos, que os casais se separavam naturalmente. Sem brigas, sem escândalos, sem outras pessoas e sem problemas fáceis de estipular um motivo, um limite, um porquê. A cama perfeita, o lençol esticadinho, ele tinha o espaço certo de se mexer com folga e ela já tinha se acostumado a dormir toda encolhida na vontade de suprir o abraço, a conchinha ou o chamego que há tanto tempo não vinham.
Em poucos segundos ele adormecia e seu sono, junto com seus sonhos, iam para sempre mais longe, alavancados por cada um dos suspiros longos que ele suspirava ao dormir. Ela, muitos e muitos minutos depois, permanecia acordada, remoendo na sua cabeça todas as coisas que ela pudesse ter feito errado, matutando a noite toda se a culpa era dela.
E os dias eram tão ocupados, ela nos compromissos dela, ele nos afazeres dele, que ficava ainda mais difícil de entender o quê ainda segurava os dois juntos todas as noites, ali naquela mesma cama tão quieta e tão barulhenta. Se ela conseguisse emudecer seus pensamentos por um segundo, igual faz o controle da TV, seria realmente o quarto mais pacífico do mundo, nenhum barulho, nenhuma voz, nenhum sussurro, nenhum gemido, nenhuma jura de amor, nenhuma briga, nenhum nada. Sua cabeça a mil por hora, barulhenta e seu quarto calmo, cheio de nada.
Levantou da manha num impulso de gato, tão milimetricamente calculado que não esbarrou em nada, nem no silêncio. Vestia regatas, calcinha e meias. Vestiu calça jeans, casaco e botas. E foi embora.
Na manhã seguinte, depois de ter andado por horas sem saber exatamente pra onde estava indo, começou a sentir o ar entrando em seus pulmões, a cabeça ficando mais leve, sem tantas idéias de culpa que por tanto tempo ela tinha acreditado que devessem ser dela. Na manhã seguinte, ele acordou com frio. Olhou pro lado e sua cama de lençol perfeitamente esticado estava fria. Olhou dentro do armário e percebeu que todas as coisas dela ficaram lá não porque ela pretendia voltar, mas sim pra mostrar pra ele que não são as roupas, os livros ou os corpos de alguém que fazem aquela pessoa presente. Ela já não estava lá há tanto tempo.
Andou pela casa por vinte minutos. De um lado ao outro, meio atordoado. Sua cabeça começou a maquinar tantos pensamentos confusos, começaram a surgir, então, as dúvidas, as indagações, as sensações de culpa. Percebeu que estava sem ar.
Duas horas no pronto socorro depois, voltou pra casa e decidiu que não mudaria nada de lugar, porque embora ela tivesse ido embora na madrugada, como gato, sua cabeça poderia esfriar e ela voltaria, ela tinha que voltar. Mas o que ele esqueceu de pensar é que quem a mandou embora foi ele mesmo. Sua cabeça barulhenta não a deixava mais trabalhar, pensar, sorrir ou dormir. E agora, andando sozinha o vento batia em seus cabelos e sua alma estava quieta. Ela não tinha medo do frio ou da falta de abraço porque percebeu que quando se está sozinha, se algum abraço vier vai ser surpresa boa. Ela gostou da idéia de não ir dormir ao lado de certezas ruins todas as noites.
E o apartamento deles continuava sendo deles tanto no contrato, quanto na decoração e também dentro de cada armário e caixinha, onde ela deixou tudo aquilo que um dia foi dela mas que ela percebeu não precisar mais; percebeu que era nada mais que puro apego. O apartamento, a cama, os lençóis e os travesseiros deles, nossos, como sugere o pronome possessivo de dois e ele esperando que um dia ela voltasse.
O que ele não entendeu, no final, é que pra ser nós há de se ser um, dois em um, e o egoísmo dele fez com que ela percebesse que valia mais a pena ser feliz sendo só. A prisão que ele vive hoje em dia foi responsável pela libertação que ela vive agora.
E infelizmente, depois de tantos anos se sentindo culpada por tudo o que ela não fez, nesse exato momento culpa era a última coisa que ela sentia. Ele está preso, mas ela está viva. Sem culpa.
Rani Ghazzaoui
Quantos medos cabem dentro do coração de uma pessoa só? E dentro da cabeça? Quantas paranóias um indivíduo consegue, completamente sozinho, criar e cultivar tão fielmente que acaba por virar prisioneiro das suas próprias invenções, creditando a elas verdades que não existem?
Toda mulher tem um pouco de psicopata, tem um pouco de louca. Toda mulher acha que seus problemas são cíclicos e passa noites em claro tentando achar em traumas do passado a resposta pra pergunta que ela passa dias inteiros repetindo sem resposta nenhuma chegar à galope. Respostas para perguntas criadas por você mesma, que resolveriam aquele problema sério que você mesma inventou, nunca vêm porque não existe ninguém no mundo além de você mesma que seria capaz de inventar tais respostas. A equação e a solução em você, mas você sempre muito complicada pra descomplicar. Você equação do segundo grau, com cálculo de logaritmo e sem calculadora nenhuma ao alcance. Nem você se alcança de tanto que corre por aí procurando resposta pra tudo quanto é coisa.
Todas as mulheres que moram dentro de mim – e delas eu posso dizer –, nas nuances das minhas trocas de humor e na rápida transição de estilo nas minhas trocas de roupa, têm em comum a coisa mais incomum do mundo: a minha loucura exata. Exata porque enquanto enlouqueço é como se houvesse fora de mim outro eu, que de lírico não tem nada já que passa todos os minutos (ou horas) da minha psicose analisando tudo racionalmente enquanto dentro pode ser raiva fervendo, sangue borbulhando, pulmões cheios, amor brotando, cabeça confusa, coração hiperventilando.
Você diz que é falta do que fazer ou que é muito tempo para pensar. E eu acho engraçado você fingir que a razão é simples assim simplesmente porque você não é capaz de entender; impossível julgar o que não se entende. Acontece que não é exatamente o que eu faço no meu dia que determina quando eu vou deixar de ser eu pra me tornar uma delas, não é porque você merece que eu morra de ciúme que eu respiro rápido todo o ar ao seu redor no minuto em que você chega só pra farejar em que ares andou você, não é porque eu acho que você se compara a tudo o que já passou que acabo te dando o mesmo tratamento de quem só merece ser destratado por mim. Se fosse simples, e se eu soubesse explicar o porquê de tantos detalhes, eu pegaria a sua mão e enrolaria ela em volta da minha cintura pra sempre porque as neuroses todas saem de uma porta que existe no meu teto e todas elas têm a ver com a minha neurose máxima, que é perder você pra sempre.
E aquele dia que eu acordei chorando porque sonhei com o que eu nem queria dizer, eu chorei porque entendi que não eram as outras pessoas que nos ameaçavam, não eram os seus sentimentos que poderiam mudar do dia pra noite e me deixar de supetão, não eram as outras mulheres, os outros homens ou qualquer uma das outras todas possíveis razões. Aquele dia eu chorei soluçando profundo e te abracei tão forte que quase te prendi o ar porque eu percebi que não são as outras coisas, as outras pessoas e nem nada que esteja nesse mundo concretizado. Chorei mais porque as frases se repetem, os parágrafos aumentam e o texto fica a cada minuto mais longo sem eu conseguir admitir pro espelho que não posso apontar dedos de culpa pra ninguém fora do meu próprio espelho. E afinal, me diga, quem é capaz de me salvar de mim?
Não sei quantos medos ou quantas pessoas diferentes vivem ou cabem dentro de mim. Não sei porque eles teimam em ficar mesmo quando eu penso que está tudo resolvido e não sei porque vão embora quando eu acho que está faltando inspiração na minha poesia e um bocadinho de loucura não me faria mal. Não sei se um dia você e todas as outras pessoas vão cansar de todas as mentiras que eu repito de jeitos diferentes há tantos anos pra não perder o meu quinhão de atenção. Não sei explicar essa minha necessidade de tanto me explicar pros outros, que é pra ver se um dia eu me aceito e aceito que por mais que eu sonhe em ser perfeita as minhas imperfeições são exatamente o que fazem de mim uma pessoa que não tem iguais. E o mais engraçado da minha paranóia é que meu maior pavor é justamente esse, de acabar um dia sentada no alto das minhas análises e dos meus medos exatos, vendo de lá de cima da minha crise esculpida à mão você indo embora com alguém absolutamente comum e descomplicadamente normal.
Não são as outras pessoas, não é o que elas possivelmente têm e eu não, não é questão de beleza, não faz relação com o amor que eu sinto, não é uma ofensa à minha inteligência, não diz respeito à minha auto-estima, não é você, não é o que você me diz e nem o que eu ouço. Às vezes a gente não quer encarar a solução de frente, e aceitar que a melhor solução pra um relacionamento disfuncional é terminar tudo pelo bem de todos.
A resposta pra minha crise eterna (e interna) não vai sair de nada, de ninguém, nem de nenhum lugar e vou ser obrigada a usar o clichê de todos os finais e dar um pé na minha própria bunda confusa, lírica e existencialista, para aprender que pensar demais não é defeito, mas pensar demais no que não existe – e logo, não tem solução – é burrice:
– O problema não é você, sou eu. Vê se trata de ser feliz.
Rani Ghazzaoui
Eu preciso saber


A recaída de amor acontece como num daqueles pesadelos que se está caindo. De repente você acorda sentada na cama: Meu Deus, eu preciso saber! Mas se eu já estava tão bem há semanas. Volte a dormir, volte a dormir. Você já tinha decidido lembra? Nada a ver com você, chato, bobo, não deu certo. Mas eu preciso saber. Não, não precisa. Pra quê? Vai te machucar. Não! Eu preciso saber. Então levanto da cama.
Facebook, a desgraça em formato de parquinho virtual. Nome dele, aparece a foto azulada e ele de perfil. É tão bonito. Mas não há mais nada que eu possa ver. Nos deletamos mutuamente pra evitar justamente esse tipo de inspecão noturna.
Mas isso não vai ficar assim. Ligo pra nossa amiga em comum. Ela não atende, afinal, são duas da manhã. Mando mensagem "me manda sua senha do Facebook agora ou vou ficar te ligando até amanhã cedo". Ela manda a senha e um palavrão. Acesso. Vamos ver. Eu preciso saber. Eu preciso. Então vejo que ele não posta nada há cinco semanas. Fotos, fotos. A única foto nova é o flyer de uma festa que eu fui e ele não estava. Nada.
Jogo o nome dele no Google. Aparece uma foto dele alcoolizado dando entrevista em uma festa de mídia. Como é lindo. Tento o Twitter mas ele só escreve piada de político. Tento o Facebook, Twitter e blogs de amigos. Está ficando tarde. Se eu tivesse essa mesma concentração e minuciosidade e empenho e energia para o trabalho estaria rica. Estou retesadamente motivada e atenta. Mas não consegui nenhuma informação e eu ainda preciso saber.
São seis da manhã. Estou cansada. Coloco a música de quando você forçou a porta do quarto e entrou. Black Swan. Não sou boa de inglês como você, mas sei que é a história de algo que já começou fodido porque cresceu demais antes da hora, você que pegue um trem e suma daqui. Que bela música pra começar. Ok, agora estou chorando. Lembrei que eu me sentia tão viva com você me olhando bem sério e bem no fundo dos olhos e machucando meu braço. Sim, é definitivamente uma recaída e eu acabo de decidir que te amo mais que tudo no universo e que amanhã, ou hoje, porque já são sete e meia da manhã, vou resolver isso. Agora preciso dormir só um pouquinho.
Volto pra cama. Coração disparado. Não tem posição na cama. O que eu faço? Não tô a fim de ler, não tô a fim de ver TV. Aquelas outras coisas que se faz pra acalmar tô com preguiça agora, minha imaginação está indo toda para traçar um plano para que eu descubra. Descubra o quê? Não sei, mas sei que algo está acontecendo, ou eu não estaria assim. Porque eu sinto quando ele está com alguém, sabe? Eu sinto. Sim! A cartomante!
Ligo pra Zuleide. Você atende hoje? Mas é domingo, Tati! Atende? Só se for por telefone. Tá bom, então joga aí: ele está com alguém? Mas Tati, você quer mesmo saber isso? Quero, mulher. Eu preciso saber. Joga aí: ele está com alguma puta? Tati, eu não posso perguntar isso pras cartas. Pergunta aí: ele tá com alguma piranhuda desgraçada vagabunda vaca dos infernos? Zuleide pede desculpas e desliga. Preciso do Lexapro mas ele acabou há semanas, igual meu amor. E agora, de repente, preciso tanto dos dois novamente.
Você acha que ele está com alguém? Não sei,  eu ainda tô dormindo, posso te ligar mais tarde? Você acha que ele está com alguém? E se estiver, quer ir ao cinema mais tarde? Você acha que ele está com alguém? Putz, sei lá, homem sempre tá comendo alguém né? Você acha que ele está com alguém? do jeito que ele gostava de você? Claro que não!
Chega, chega. Preciso me acalmar. Pra que isso? Se ele estiver com alguém agora, e daí? Terminamos não terminamos? Ele e eu não temos nada a ver, certo? Decidimos que era melhor assim, certo? Eu não tava bem com ele e nem ele comigo, certo? Porque era bom e tal. Aliás, meu Deus, como era bom. Mas não era bom pra ficar junto, certo? Então pronto. Chega. Adulta, adulta. Qual o problema se ele estiver agora, justamente agora, lambendo a virilhazinha de alguma desgraçada? Qual o problema? Ok, eu posso morrer. Eu definitivamente posso morrer. Chega, vou acabar com essa palhaçada agora mesmo.
Tomo banho, me visto, pego a bolsa, entro no carro. Considerando que ele não mora nessa cidade, não sei exatamente o que eu pretendo com isso. Mas me faz bem enganar o cérebro e fazer de conta que estou indo atrás da verdade. Na verdade vou só na casa de outro, preciso fazer qualquer coisa que não seja sofrer, mas não consigo. O outro não conhece Black Swan, não ri da história da Zuleide, não me aperta o braço.
Volto pra casa, destruída. Sinto tanto amor dentro de mim que posso explodir e bolhas de corações vermelhas atingiriam o Japão. Quase não consigo respirar. Chega, chega. Ligo pra ele. Ele não atende. Ligo de novo. Ele atende falando baixinho. Você está com alguém? Estou. Desligamos. Pronto, agora eu já sei. Depois de um final de semana inteiro de palpitacões, descargas de adrenalina, músicas, textos, amigos, danças, gritos, sensações, assuntos, choros, dores, vida. Agora eu já sei.
O que eu nunca vou saber é porque faço tudo isso comigo só porque tenho tanto pavor do tédio. Era só isso o que eu precisava saber.

tati bernardi
Sabe aquele tipo de coisa gostosa de se fazer, como ler alguma coisa boa que te deixa com um sorriso alegre e mostra todos os dentes de felicidade?

Aquela coisa brega tipo romance água com açúcar, ou algo muito sério, que te ensine algo.
Tem também aquele filme que a gente assiste e fica imaginando a vida daquele jeito. Ou o comercial de margarina, com a família feliz.
Tem também aquele elogio todo bom, daquela pessoa toda séria que você nunca imaginou que iria um dia falar de você e pior, falar bem.
Sabe aquele dia com as amigas, conversa fiada e comida boa?
Ou deitar na cama depois de um dia longo?
Ou ir ao banheiro quando se esta apertada, esperando liberar o banheiro e quando você começa a fazer xixi parece que não para mais, e o alivio é imediato?
E carinho de mãe quando você só quer colo, abraço de pai quando você faz aquela cagada e ele te olha e em silêncio te diz, “vem cá, ta tudo bem!”
Tirar um dia da preguiça, e praticar o ócio e nem ficar culpada. Passar o dia de domingo na cama, de pijama vendo tudo que tem na TV e dar risada com o Panico.
Fazer comida, e depois alguém falar que estava divino.
Chegar em casa e descobrir que seu prato predileto foi feito.
Receber aquele sorriso gostoso e sincero de criança.
Deitar pra dormir enquanto a chuva cai do lado de fora.
Tirar dez em uma prova ou quem sabe ganhar um presente de surpresa seguido de flores, ou comer uma caixa de chocolate e nada de culpa, afinal você merece.
Sentir cheiro de calçada molhada no verão e ter a sensação de passado, de voltar pra rua de casa, aquela que eu pulava amarelinha.
Rever amigos antigos, aqueles que a gente sente falta dia sim e dia tbm.
Mas nada se compara a sensação de ser amada e amar alguém.
Ou aquele sentimento de saudade, essa saudade gostosa, que dói um pouquinho, mas que você sabe que logo logo vai passar.
Aquele abraço de quem a gente ama, aquele que você se esconde dentro dele.
O olhar de compreensão, de quem te entende, sem ao menos entender nada. É a segurança que te proporciona, o carinho que demonstra, e a maneira que te ama.
Aqueles planos pra vida inteira, sem ao menos saber se terão a vida inteira. Aquele beijo demorado, sem esperar nada, mas recebendo tudo.Aquele amor de alma, que se divide cada sorriso e segura cada lágrima.
Enfim, essa paixão gostosa, esse amor sincero, essa coisa toda que me deixa meio brega, inteira, completa e com o sorriso de comercial de creme dental.
Sabe aquela sensação gostosa que comecei a descrever? É igual a ter borboletas da barriga...
Como disse Coco chanel " Uma mulher precisa de duas coisas na vida: Um vestido preto e um homem que a ame..."
É tão bom ter os dois!!!
Se você não sabe, experimenta amar, faz bem!

Escrito por Sinceras desculpas

TPM

As vezes eu me faco de desentendida...

40 anos...onde esta a tal Felicidade?

A maioria das pessoas, quando são questionadas sobre o assunto, dizem: "Não existe felicidade, existem apenas momentos felizes". É o que eu pensava quando habitava a caverna dos 17 anos, para onde não voltaria nem puxada pelos cabelos. Era angústia, solidão, impasses e incertezas pra tudo quanto era lado,
Adolescente é buzinado dia e noite: tem que estudar para o vestibular, aprender inglês, usar camisinha, dizer não às drogas, não beber quando dirigir, dar satisfação aos pais, ler livros que não quer e administrar dezenas de paixões fulminantes e rompimentos. Não tem grana para ter o próprio canto, costuma deprimir-se de segunda a sexta e só se diverte aos sábados, em locais onde sempre tem fila. É o apocalipse. Felicidade, onde está você? Aqui, na casa dos 40 e sua vizinhança.
Está certo que surgem umas ruguinhas, umas mechas brancas e a barriga salienta-se, mas é um preço justo para o que se ganha em troca. Pense bem: depois dos 40, você paga do próprio bolso o que come e o que veste. Vira-se no inglês, no francês, no italiano e no iídiche, e ai de quem rir do seu sotaque. Não tenta mais o suicídio quando um amor não dá certo, enjoou do cheiro da maconha, apaixonou-se por literatura, trocou sua mochila por uma Samsonite e não precisa da autorização de ninguém para assistir ao canal da Playboy. Talvez não tenha se tornado a bam-bam-bam que sonhou um dia, mas reconhece o rosto que vê no espelho, sabe de quem se trata e simpatiza com a cara.
Depois que cumprimos as missões impostas no berço — ter uma profissão, casar e procriar — passamos a ser livres, a escrever nossa própria história, a valorizar nossas qualidades e ter um certo carinho por nossos defeitos. Somos as titulares de nossas decisões. A juventude faz bem para a pele, mas nunca salvou ninguém de ser careta. A maturidade, sim, permite uma certa loucura. Depois dos 40, conforme descobriram os participantes daquele congresso curioso, estamos mais aptas a dizer que infelicidade não existe, o que existe são momentos infelizes. Sai bem mais em conta.
Quem nao sonhou com algo impossivel de acontecer...
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