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Posso ser EU mesma

Posso ser homem, mulher, branco, negro, mulato, mameluco ou japonês. Posso gostar de carne, de espetinho de gato, do hamburger da esquina ou de pizza fria. Posso ser vegetariana, atleta, controlada, obcecada. Posso ser uma doida varrida, às vezes, enclausurada na minha própria casinha-casulo, minúscula, um pouco limpa, um pouco suja, mas muito minha e apenas minha.
Assim como posso ser falante, andante, viajante, multifacetada, antenada, de cara lavada, de chinelo de dedo, sem relógio, sem tempo, sem rotina, sem agenda, sem patrão, sem sermão, sem saber se o pão de amanhã estará na mesa. Que mesa? Não há mesa, nem toalha xadrez, nem cadeira de vime, nem margarina, nem manteiga, muito menos doutrina que me diga se estou certa ou não.
E assim posso ouvir as conversas dos outros, falando de mim, que sou chata, indiferente, mas também boa gente, que não me misturo, mas não falo das pessoas, não crio fofoca, não dou palpite, não me meto na vida de ninguém. Porém, conheço todo mundo, desde a pequena menina até a velha tia, todos os bares da cidade, todos os garçons, os andarilhos, os flanelinhas e as putas da esquina e, também, as de boa família. Conheço o gerente do banco, o dono do supermercado, o político ascendente e a famosa loira um tanto decadente, mas que ainda faz o maior sucesso na roda dos moços e nos ti-ti-tis dos salões de beleza. E trato todo mundo igual, com calma, com educação, sem ofender ninguém e sem dar margem para invasão. Invasão de espaço, de idéias, de modismos, invasão de gente, por todo o lado, como um mundo saturado, poluído, diluído, sem emoção porque tudo virou banal, virou demasiado, virou publicado em jornal, em revista, na internet, no blog, no panfleto da rua ou na porta do banheiro público, cheio de histórias, de nomes, de palavrões, de números de telefones e do desabafo sem nexo ou tão complexo que oportunamente aparece anexo ao novo rumo que a vida toma, a qualquer tempo, em qualquer espaço. Espaço com abertura para a fuga.
Fugir é a decisão. É o rumo e não a contramão. Fugir da própria vida, do eu interior, do sofá do psicólogo, do mestre de disciplina, da fila, da semana vazia. Fugir do aeroporto, escapar da viagem ou do encontro marcado. Fugir de mais um dia, dos ponteiros do relógio, do tempo escasso, do horário congestionado e do dia a dia controlado. Fugir da consulta médica, da aula de inglês, da secretária, da reunião com o chefe, do pilates, do café com a família, do vigia. Fugir para qualquer lugar, apenas para se encontrar e começar um novo dia.
Fazer tudo de novo, tudo igual, tudo banal, apenas carnal, sem emoção, sem intenção, sem vontade ou intensidade. Que graça tem? Eu sou diferente, não quero rotina, quero sair de um jeito a cada dia. Posso ser magra, gorda, básica, perua, tímida, expansiva, mas nunca vazia. Quero ser louca, sexy, arrogante, mas também quero ser boa menina, obediente, sorridente, travessa, assanhada. Também quero uma agenda lotada. Posso ser oito, posso ser oitenta, posso ser o que bem quiser, porque sou diferente, e ninguém tem nada a ver com isso, apenas tento ser coerente com os meus pensamentos, com a minha vida, com meu jeito único de ser, afinal, sou um ser singular e ponto final.

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